A sensação do tempo perdido


Os Carta chegaram a São Paulo da Itália em agosto de 1946, o casal Giannino e Clara, os filhos Luis e Mino. O pai atendia ao chamado de Chiquinho Matarazzo, filho do fundador Francisco, para orientar a reforma da Folha de S.Paulo, da qual o conde tinha maioria acionária. Giannino era um jovem jornalista de 41 anos que preferiu o Brasil à direção do principal jornal de Gênova, II Secolo XIX.

A família vinha da Guerra, durante a qual Giannino fora sequestrado e encarcerado pelos janízaros de Mussolini, no melhor estilo instaurado no Brasil pelo Tribunal do Santo Ofício de Curitiba. Ao escolher a proposta de Matarazzo, Giannino viu no Brasil a terra prometida e segura, diante do que temia, um novo conflito mundial. De fato, se deu, mas foi a Guerra Fria.

Mal chegou a família, o projeto de Ma-tarazzo se desfez, ele não dispunha da maioria absoluta e um pequeno grupo empresarial, muito antes de Frias e Caldeira, entrou em cena e aviou a receita necessária para que outros se apossassem do jornal.

O conde, em compensação, era sócio de outros empresários de origem italiana em uma nova e promissora editora, o Instituto Progresso Editorial, responsável pelo lançamento de muitos autores europeus e dos principais americanos dos anos 20 ainda não traduzidos.

O Brasil era o país do futuro, com todos os méritos que a natureza lhe assegurara, e São Paulo uma cidade bem-comportada de 1 milhão e meio de habitantes e 50 mil carros. O Cadillac do conde Matarazzo ostentava a chapa número 1. Quando os Carta chegaram, os postes da Avenida São João, a grande artéria central, exibiam cartazes gigantescos de Rita Hayworth, protagonista do filme Gilda, em exibição no Cine Marabá. Foi uma acolhida sedutora.

O nome de batismo de Mino é Demetrio, herdado do avô paterno. O menino achava-o pesado demais e passou a ser simplesmente Mino, e assim passou a assinar desenhos, aquarelas, quadros e pequenas telas a óleo, bem como contos relâmpagos, reunidos debaixo do título geral de Esquisitices. Ele queria ser pintor e escritor quando crescesse.

O irmão mais novo, Luis, aos 11 anos já era exímio na máquina de escrever, e como tal cuidou de batucar sobre papel condizente os textos do irmão. Ele queria ser jornalista.

Conto estes momentos da minha vida para explicar como os Carta chegaram confiantes, foram bem recebidos e logo se deram bem. No IPE, meu pai conheceu outro jornalista, Paulo Duarte, que acabou por levá-lo ao Estadão para realizar ali o trabalho que haveria de fazer na Folha. Meu irmão e eu fomos estudar no Colégio Dante Alighieri e a vida fluiu com naturalidade e sem percalços.

E aqui estou agora, a enfrentar a minha Olivetti sem ter atingido em momento algum a eficácia de Luis, a começar pelo fato de que meus dedos têm a inexorável tendência de se inserir entre as teclas com resultados lamentáveis. E assim convoco a memória neste meu ocaso pessoal, ao tentar expor os pensamentos que me tomam neste exato instante.

Fui jornalista por razões mercenárias, embora sempre tenha cultivado ideias opostas às dos patrões. Minha conversão ao jornalismo, digamos assim, consciente e responsável, meu tombo a caminho de Damasco, aconteceu no longo espaço de tempo invadido pela ditadura.

Foi então que percebi a serventia desta complexa profissão sempre que praticada com fidelidade canina à verdade factual e com indomável espírito crítico, na fiscalização desassombrada do poder onde quer que se manifeste.

Durante a ditadura, entendi o valor insubstituível do registro preciso dos fatos e Hannah Arendt tratou de me inspirar. Illo tempore, submetido a uma censura feroz, costumava repetir, para mim mesmo e para quem quisesse ouvir, uma frase da pensadora alemã: “Não há esperança de sobrevivência humana sem haver homens dispostos a dizer o que acontece, e que acontece porque é”.

Houve quem dissesse que eu inventara a segunda parte da passagem do ensaio “Entre o Passado e o Futuro”. Por que é? Que significa isso? Pois é. Hannah Arendt induziu-me também a pensar que o tempo não existe, que a eternidade, se quiserem a imortalidade está em cada átimo da nossa vida registrado para sempre, aparentemente efêmero e no entanto eterno.

Disse átimo, e esta também é medida humana. A vida de cada qual cabe dentro de uma moldura em que entramos por completo, inclusive aquilo que esquecemos. Einstein disse, de resto: “O tempo é a persistente ilusão”.

Neste átimo busco entre o fígado e a alma outro momento igual a este, de desencanto profundíssimo, causado pela situação do País. O golpe de 1964. O golpe dentro do golpe de 1968. A torpe figura que na redação do Jornal da Tarde girava os olhos à procura do pecado. Veja apreendida nas bancas, depois a censura.

O auge do terror de Estado em 69 e começo dos anos 70 e sua retomada nos primeiros anos 80. A derrota das Diretas Já. Sim, foram situações difíceis, não o suficiente, porém, para gerar este atual desencanto. Eu acreditava que ao terminar a ditadura, o País acharia o caminho certo.

O primeiro abalo a esse gênero incauto de fé veio com a chamada redemocratização, uma cilada do destino que sagrou presidente aquele que comandara a rejeição da emenda das Diretas. E me fez pensar na atualidade do príncipe de Salina, quando sugeria mudar alguma coisa para não mudar coisa alguma. Segundo abalo, a eleição de Collor, com o apoio da mídia nativa, a denominá-lo “caçador de marajás”.

Terceiro, o governo de Fernando Henrique, senhor da “estabilidade”, do triunfo do neoliberalismo à brasileira, da reeleição comprada, da maior bandalheira da história (a privatização das comunicações), da míngua das burras do Estado e da falência do Brasil.

Voltei a visitar a esperança com a eleição de Lula, e CartaCapital o apoiou, sem restrições quase sempre, tanto mais em meio ao “mensalão” e da primeira campanha de Dilma Rousseff, embora ele tenha acreditado na famigerada conciliação e aderido, ao menos em parte, ao neoliberalismo, sem detrimento do nosso apoio na sua segunda eleição e nas duas de Dilma. Reconhecemos em Lula o único presidente capaz de dar passos importantes no plano social e de afirmar a independência do País no plano internacional.

Nunca como neste átimo eterno, e nos que virão a me dizer que sou, o País me pareceu tão distante daquele que conheci ao chegar 71 anos atrás. A casa-grande e a senzala então ainda estavam de pé e havia um Brasil risonho e outro muito triste, e resignado na sua tristeza, mas era razoável imaginar que a Idade Média tivesse os dias contados.

Hoje voltamos a tempos muito anteriores aos da minha chegada, sofremos um golpe desfechado pelos próprios Poderes da República com a indispensável contribuição da propaganda midiática e o apoio de setores da Polícia Federal. Há autênticas quadrilhas no poder, a serviço da casa-grande, a qual nunca viveu fase tão favorável, de prepotência, arrogância e irresponsabilidade.

Que esperar de 2018? Como acreditar que Lula não seja condenado na segunda instância e que os golpistas, até hoje tão bem-sucedidos na operação de desmonte do País, se disponham a entregar a Presidência a um candidato de oposição? Nestas condições, até o pleito presidencial está em xeque.

O que pode detê-los? À medida que a crise e o desequilíbrio social se aprofundam e o projeto de saque do País avança, os quadrilheiros serão derrotados por seus próprios desmandos. Neste contexto o desafio de Lula à injustiça e ao insano desgoverno ganha uma extraordinária grandeza, na sua determinação de ir até as últimas consequências. E com ele estamos, na certeza de que seu gesto dará frutos, a partir do fato de que cala fundo e mais calará.

Constato, bastante além da mera melancolia, que o Brasil de hoje regrediu brutalmente em relação àquele que conheci faz quase 72 anos, e a sensação dolorosa é a do tempo perdido. Temo que o País tenha assumido o rosto, melhor, a catadura que merece. O desafio exemplar de Lula, no entanto, e estranhamente, me anima em meio ao desencanto, quaisquer venham a ser seus resultados. (Por Mino Carta, do CartaCapital).

Mino Carta. (Foto: Reprodução).

Papa Francisco denuncia “traidores” corrompidos “pela ambição ou pela vaidade” no Vaticano


A denúncia papal não tem meios termos: no Vaticano existem “traidores” corrompidos “pela ambição ou pela vaidade”, além de complôs que são como um “câncer” a ser erradicado.

Dom De Mérode dizia que “fazer reformas em Roma é como limpar a Esfinge do Egito com uma escova de dentes”, e Francisco, tendo chegado ao seu quinto ano de trabalho nas reformas e ao seu quinto discurso para os votos natalícios aos colaboradores romanos, explica que “uma Cúria fechada em si mesma estaria condenada à autodestruição”.

O Papa Bergoglio, no seu discurso, lembra que a Cúria deve estar aberta ao mundo, e isso é “muito importante superar aquela lógica desequilibrada e degenerada dos complôs ou dos pequenos círculos que, na realidade, representam – apesar de todas as suas justificativas e boas intenções – um câncer que leva à autorreferencialidade”, um mal a ser derrotado porque ele “também se infiltra nos órgãos eclesiásticos e, em particular, nas pessoas que atuam na Cúria”.

Depois, o bispo de Roma advertiu com dureza contra o “perigo” constituído pelos “traidores da confiança” ou pelos “aproveitadores da maternidade da Igreja”. Quem são eles? Bergoglio parece ter presente casos bem precisos: ele os define como “as pessoas que são cuidadosamente selecionadas para dar um maior vigor ao corpo e à reforma, mas – não compreendendo a altura da sua responsabilidade – se deixam corromper pela ambição ou pela vaidade”.

Além disso, quando são “delicadamente afastadas, autodeclaram-se erroneamente mártires do sistema, do ‘papa desinformado’, da ‘velha guarda’… em vez de recitar o ‘mea culpa’”.

O papa, no entanto, não esquece “a grande parte, a maioria de pessoas fiéis que trabalham com louvável compromisso, fidelidade, competência, dedicação e também santidade”.

Depois, explica que a Cúria deve funcionar como uma antena e deve captar as reivindicações, as demandas, os pedidos, os gritos, as alegrias e as lágrimas das Igrejas de todos os continentes, a fim de transmiti-los ao bispo de Roma.

Francisco listou alguns âmbitos de trabalho, começando pela relação com as nações.

A Santa Sé é uma construtora de pontes e, estando a sua diplomacia a serviço, “se empenha em ouvir, em compreender, em ajudar, em levantar e em intervir pronta e respeitosamente em qualquer situação para aproximar as distâncias e para tecer a confiança”.

O único interesse da diplomacia vaticana é “o de estar livre de qualquer interesse mundano ou material”. Também por isso “foi criada a Terceira Seção da Secretaria de Estado”, que se ocupará dos núncios apostólicos, ou seja, dos embaixadores da Santa Sé no mundo.

Depois dos cardeais e prelados, o papa recebeu os empregados da Santa Sé, ao quais pediu desculpas porque “nós – eu falo da ‘fauna clerical’ – nem sempre damos o bom exemplo”. E advertiu: é preciso agir para que, no Vaticano, não haja mais “trabalhos e trabalhadores precários” ou “irregulares”. (Com informações do DCM e do Unisinos).

Papa Francisco durante audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano 16/11/2016. Reuters/ Alessandro Biachi.

Humanizar o Brasil


Sim, talvez este seja o nosso maior desafio no ano que se inicia. Humanizar o Brasil: Humanizá-lo no sentido de torná-lo mais humano, afável, tratável. Mais polido e civilizado, menos intolerante e animalizado.

Zulu Araújo. (Foto: Reprodução/ Revista Raça).
Digo isto, pois a brutalidade, o ódio, a intolerância e a violência tem se disseminado de tal forma em nosso país que nos dá medo. Medo de ser sincero, de ter opiniões, de se posicionar. Medo até mesmo de escutar o outro. O momento é tão grave, que as desigualdades, as discriminações e exclusões, sejam elas de que ordem for estão sendo naturalizadas e apresentadas por nossos algozes como algo intrínseco a nossa existência humana e não como uma contingência fruto dos nossos atos.

No campo da violência racial, por exemplo, os números são tão chocantes que até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU) assustou-se e chamou para si a responsabilidade de alertar a sociedade brasileira sobre a monstruosidade que está ocorrendo em nosso país, criando a Campanha intitulada Vidas Negras, cujo objetivo é chamar a atenção e sensibilizar atores estratégicos dentro da sociedade para enfrentar e superar esta tragédia nacional.

Neste sentido, volto a afirmar, os dados são chocantes, senão vejamos: Pesquisa  recentemente divulgada pela UNICEF indicam que se nada for feito, mais de cem mil jovens negros entre 15 e 29 anos serão assassinados no Brasil até o ano de 2021. Ainda assim, segundo outra pesquisa realizada pelo Senado Federal, 56% da população brasileira afirma de que “a morte violenta de um jovem negro choca menos a sociedade do que a morte de um jovem branco”. É o exemplo mais contundente da desumanização da sociedade que vivemos, melhor dizendo do racismo entranhado em nossos corpos e mentes.

Inúmeras instituições e movimentos sociais tem se debruçado sobre esta questão e apresentado um cardápio variado de soluções, dentre elas a Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal, liderada pela Senadora Lídice da Mata, da Bahia. A CPI elencou três ações consideradas fundamentais e uma recomendação para darmos um basta a este morticínio: a) Criação de um Plano Nacional de Redução de Homicídios de Jovens. B) Transparência de dados sobre segurança pública e violência. c) Fim dos autos de resistência (termo utilizado por policiais que alegam estar se defendendo ao matar um suspeito). E ao final a desmilitarização das polícias.

Como podemos ver, há caminhos a serem percorridos e soluções à vista se os poderes da república (Executivo, Legislativo e Judiciário), saírem da sua inércia desumanizadora e resolverem tratar a questão da violência no Brasil enquanto prioridade. Claro que para tanto, a sociedade brasileira terá que se manifestar e mobilizar,  em particular os setores mais atingidos que é a população negra.

Por isto mesmo, considero que em 2018, uma das formas de humanizarmos o nosso país é participar ativamente do processo de escolhas dos nossos futuros representantes, seja em que nível for e cobrar, nos seus programas políticos, nas suas plataformas de trabalho ou nas suas propostas eleitorais, o compromisso com a vida – no caso a vida da juventude negra. Não podemos aceitar, nem considerar normal que representantes de grupos de extermínio, racistas, intolerantes, machistas e psicopatas de plantão se elejam e nos representem afirmando que isto é em nome da lei, da ordem e dos bons costumes.

Enfim, humanizar a política, os políticos e suas relações com a sociedade é fundamental para que saíamos dessa armadilha que estamos enredados. (Por Zulu Araújo, na Revista Raça).


Com chegada de Bolsonaro, grupos livres deixam o PSL


A entrada do deputado federal Jair Bolsonaro no PSL e a confirmação feita pelo presidente nacional do partido, Luciano Bivar, de que ele será o candidato da legenda à Presidência da República provocou a primeira baixa de grande porte na legenda. O grupo Livres, de tendência libertária, que controlava 12 diretórios estaduais do PSL, disse, em nota, que está se desligando do partido.

"É com extremo pesar que comunicamos a saída do Livres do Partido Social Liberal", diz a nota do Conselho Nacional do grupo. "A chegada do deputado Jair Bolsonaro, negociada à revelia dos nossos acordos, é inteiramente incompatível com o projeto do Livres de construir no Brasil uma força partidária moderna, transparente e limpa", completa o texto.

Sergio Bivar, filho do presidente nacional da legenda e que faz o elo de ligação entre o Livres e o partido, também emitiu nota criticando a entrada de Bolsonaro no PSL e disse que está avaliando se irá se desfiliar da legenda. (Com informações do Brasil 247).


Bolsonaro chega no PLS e já causa baixa na legenda. (Foto: Reprodução/ Brasil 247).

Bolsonaro e os estupromaníacos


Há algo de extremamente doentio na relação da extrema direita com o crime de estupro, embora isso não seja, exatamente, uma novidade.

Na horripilante alegoria do fascismo feita pelo cineasta Paolo Pasolini, em 1975, “Saló ou 120 dias de Sodoma”, um grupo de jovens, homens e mulheres, é sequestrado por militares fascistas para ser brutalizado e submetido a todo tipo de sevícia sexual.

No filme, as cenas de sadismo, escatologia e tortura são o pano de fundo para as sequências de estupro, um instrumento de dominação presente em todas as masmorras de governos autoritários, uma arma de guerra de todos os exércitos – um método de terror que nunca se perdeu no tempo.

No Brasil, o uso do estupro para aterrorizar e torturar presos políticos, sobretudo as mulheres, tornou-se um legado patológico da ditadura militar transformado em um incontrolável desejo sexual pelos psicopatas de direita. Ora pensado como instrumento de vingança, ora como punição necessária aos que não rezam pela cartilha fascista.

As poucas pessoas que conheço adeptas do pensamento fascista, além das muitas que percebo por meio das redes sociais, veem no estupro de presos (políticos ou não) uma ação quase que necessária, única forma de tornar exemplar uma punição baseada somente em sentenças de prisão.

Dessa forma, para essas pessoas, não basta que Lula seja preso, é preciso que, uma vez na cadeia, ele (e todos os petistas, comunistas, ateus, abortistas, gays) também sofra sevícias sexuais severas, exemplares. Uma patologia morbidamente freudiana imaginada como dor e punição para o outro, mas como óbvia fonte de prazer doentio para quem a deseja.

Jair Bolsonaro, processado no Supremo Tribunal Federal por incitação ao estupro da deputada Maria do Rosário (PT-RS), reúne em si e em torno de seus seguidores todas as variáveis dessa patologia.

Ao votar pelo impeachment da presidenta Dilma Rousseff, Bolsonaro fez questão de homenagear o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, a besta fera que torturava presos políticos no DOI-CODI de São Paulo, nos anos 1970.

Lá, Ustra colocava ratos nas vaginas de mulheres e organizava sessões de estupros para aterrorizá-las. Ato contínuo, colocava as próprias filhas para brincar com as presas recém-seviciadas, como denunciou, no histórico artigo “Brinquedo macabro”, o jornalista Moacyr Oliveira Filho, o Moa.

Ustra era um demente monstruoso.

Por essa razão, não deixa de ser coerente que os admiradores de Jair Bolsonaro (e, por extensão, de Brilhante Ustra), hidrófobos alimentados por uma ração permanente de ódio, ignorância e intolerância, infestem as redes sociais para comemorar o assalto sofrido por Maria do Rosário. E, mais ainda, demonstrar imenso descontentamento por ela não ter sido estuprada.

Trata-se de uma matilha adestrada pela narrativa que relaciona Direitos Humanos à defesa de bandidos. Uma deformação de pensamento que, infelizmente, revela a precariedade da educação básica brasileira, principalmente nessa classe média iletrada e reacionária que, hoje, sustenta a candidatura de um idiota que comemora um assalto e torce pelo estupro de uma mulher. (Por Leandro Fortes, na Revista Fórum).




A nova Ministra do Trabalho: Ministra Cristiane, mas pode me chamar de Roberto Jefferson


Ele voltou, agora plenamente.

O homem dos “instintos mais primitivos” é, desde hoje, o ministro de fato do Trabalho.

Com todo o respeito pela insossa Cristiane Brasil, sua filha, é ele quem, politicamente, foi nomeado.

É este o nível do ministério Temer, o de “Bob Jeff”, que quase emplacou a moça como ministra da Cultura em julho do ano passado.

A escolha é coerente.

Afinal, Jefferson tem experiência com malas, porque foi ele quem tornou agudo o processo do chamado “mensalão” ao ter falado que recebeu uma delas, com R$ 4 milhões, que jamais apareceu, mas serviu para “comprovar” que o governo petista “comprava” uma base de apoio.

Foi, assim, o precursor da delação premiada – versão mais antiga e menos benévola – reduzindo sua pena de dez para sete anos, que cumpria em regime aberto até que foi indultado pelo ministro Luis Roberto Barroso. Sem protestos, aliás, porque já havia cumprido os requisitos para obtê-lo.

O pai, orgulhoso, recebeu o presente das mãos de Temer, já sem munição para escolhas políticas mais representativas, que o ajudassem a remontar  sua  base na Câmara.

Roberto Jefferson, uma espécie de híbrido entre Eduardo Cunha e Carlos Marun, é de novo um dos convivas à mesa do poder, onde se devora o Brasil. (Por Fernando Brito, do Tijolaço).

Roberto Jefferson e sua filha, a agora ministra do trabalho, Cristiane Brasil. (Foto: Reprodução/ Tijolaço).

Ao comentar pesquisa, Sakamoto diz que redução da maioridade é a prova de que desistimos do futuro


O colunista Leonardo Sakamoto comenta a pesquisa que mostra que 84% da população quer a redução da maioridade penal para crimes graves. “A medida encontra menos respaldo entre os ateus (65%) do que entre aqueles que se declaram religiosos. Ela alcança 86% junto aos católicos, 84% com evangélicos e espíritas e 91% com os adeptos de outra religião.

De acordo com Sakamoto, “nosso país se entrega ao autoengano das soluções rápidas e ineficazes para o medo da violência cotidiana”. Para ele, é interessante constatar que a proposta seja mais aceita justamente pelas pessoas mais crentes em Deus. O colunista relembra que o Novo Testamento critica a vingança como uma forma de fazer justiça.

Sakamoto questiona quem ganha com essas medidas e diz que precisamos de soluções estruturais para acabar com a violência. “A redução vai apenas alimentar o ódio de quem já sente que foi abandonado pelo resto da sociedade à sua própria sorte. Não é simplesmente punindo o jovem em desacordo com a lei, mas também criando condições para que ele não caia nas mãos de alguma facção criminosa”, diz Sakamoto.

O colunista diz que podemos mudar as convenções e instituir a maioridade aos 16 anos. “Pois o problema não é a idade, mas como preparamos as novas gerações para viverem em sociedade. E como cuidamos delas. Se jovens de 14 começarem a roubar e matar, mudamos tudo novamente?”, questiona o jornalista.

Para Sakamoto, a “vingança institucionalizada representada pela redução da maioridade penal significa, de certa forma, uma declaração da falência do Estado, de inviabilidade do futuro e de incapacidade da sociedade de encontrar saídas racionais”. (Com informações do Brasil 247).

Confira a íntegra do artigo aqui

(Foto: Moacyr Lopes Júnior/ Folha).

Mobilização, Consciência de Raça e Gênero, Rumo aos 130 anos da Abolição


O Brasil, é a segunda maior população negra fora de África, e de acordo com o IBGE 2017, conta com uma população de 207,7 milhões, sendo este de maioria mulheres, em um percentual de 51,8%, dentre elas maioria negra. Ainda assim estamos condicionadas as piores relações, e condições de trabalho, salários, moradia, saúde, mobilidade urbana e acesso à cultura em termo de produção, execução, e ou conhecimento.

Nestes últimos 130 anos houveram mudanças substanciais, na formação sócio cultural, econômica e histórica de nosso país, da Abolição a Constituinte de 1988, essas mudanças se evidenciaram em várias formas de expressão, como simbolismo da resistência, à afirmação da identidade negra. Com tudo isso a população negra, independente do sexo, recebe 50% menos na sua remuneração que a não negra, quando se inclui o recorte gênero a situação fica ainda mais alarmante. A remuneração de duas mulheres negras juntas, correspondem ao valor de uma mulher não negra. De acordo com a Relação Anual de Informação Social (Rais), do Ministério do Trabalho.

Os 14 anos de governo democrático e popular, nos inseriu nas condições de cidadania, significando direito ao trabalho, a saúde, moradia e a educação, o respeito aos direitos individuais e coletivos, tivemos soberania, e desenvolvimento da nação. Conhecemos a autossuficiência do Pre-sal, um dos recursos naturais da maior importância estratégica para um pais, bem como sua representação técnica e cientifica/ Petrobrás. Que simbolizou uma alavanca para vários setores econômico para o nosso país e para as categorias econômicas, gerando milhares e milhares de empregos.

Hoje o que temos para além de um governo ilegítimo e golpista, com apenas 4% de aprovação, é o remédio amargo do desmonte do estado. A PEC da morte nos traz 20 anos de congelamento do estado, é o retorno do estado mínimo e do neoliberalismo, bem como a entrega de nossas estatais como já vem acontecendo.

Estamos em um momento onde o país atravessa uma de suas maiores crises sociais, econômicas, sistêmicas e política. Onde o racismo estrutural se reapresenta com formato moderno de flexibilização das condições e relações de trabalho, e assim retrocedemos aos 130 anos antes da abolição. E com esse entendimento precisamos ter e dar reconhecimento ao papel histórico das mulheres trabalhadoras, e em especial á seu ícone: As Mulheres Negras, que sempre compôs a base da pirâmide sócio econômica do nosso país, e por isso se encontra em maior fragilidade no mercado de trabalho.

Esta relação contextualizada na história, demonstra uma percepção multidimensional da pobreza, que se exemplifica no cotidiano, na acessibilidade e na invisibilidade da população negra, em especial as suas mulheres, que sofre a influência do racismo estrutural na sua apresentação das relações sócio econômica e o racismo institucional que se materializa nas relações onde o estado sustenta a estratificação social, nas condições matérias para a nossa população, e assim mantem o status quo. Esse cenário aponta, que ainda que esse estado não tenha pena de morte, ainda assim é o que mais mata, um país em aparente estado de paz na política global, se encontra com índice de mortalidade de guerra, pois de forma velada se encontra em uma verdadeira guerra civil.

O último país a constituir a abolição, O ano que se aproxima, dentro de um cenário de grande significância, e o ano dos 130 anos da Abolição da escravatura. “A abolição lenta (Lei da Terra 1850), gradual (Lei dos sexagenários 1885) e segura (Lei do ventre livre 1871), que ensaiou uma “liberdade” que ainda não cantou.

Desta forma 2018, será um ano onde teremos que sustentar a bandeira do ensino público e de qualidade, assim como primeiro emprego para a nossa juventude, em contraposição a superlotação nos presídios. Temos que defender com veemência o Sistema único de Saúde – SUS, pelo direito a um tratamento digno e mais humano para aqueles que mais precisam, a população periférica, a mais pobre que é de maioria negra. Precisamos continuar defendendo o desenvolvimento do nosso país, dando centralidade na questão do trabalho, a valorização da mulher: Queremos a materialidade da dignidade e do respeito, que tem o signo da igualdade de oportunidade e de condição, pautamos a Convenção 100 da OIT - Trabalho Igual para Salario Igual de Valor. Que social, e historicamente tem o mesmo ou maior simbolismo, que a luta vitoriosa que tivemos, pela valorização do salário mínimo. Em 2018 essa bandeira que unifica as mulheres em todos os seus segmentos precisa ser entendida pelas centrais, como centralidade na luta de classes.

Na questão emblemática de defesa da democracia perceber também com reflexão, e a perca dessas nos direitos individuais e coletivos, como: a intolerância religiosa, lesbofobia, homofobia, feminicídio, e o genocídio de toda forma.

Assim seguimos na guerrilha com o objetivo em:

Defesa das Terra Indígenas e Quilombolas.
Da vida de nossa juventude.
Pela Liberdade Religiosa, e em defesa do Sagrado, Contra a Intolerância Religiosa.
Pelo direito ao trabalho digno.
Pelo salário igual, para trabalho de igual valor – Convenção 100 da OIT.
Pelo direito e acesso à educação digna e de qualidade.
Defesa de nossa soberania e recurso naturais/Meio Ambiente.

Saudações Quilombolas! E vida longa a você heroínas e heróis que leva a luta antirracismo, em defesa de nossos objetivos de nação, e de nossas vidas, por quê vidas negras importam!! (Por Mônica Custódio, no Portal Vermelho).

Mônica Custódio. (Foto: Reprodução/ Portal Vermelho).

Os dois golpes de 2018


O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) anunciou o dia 24 de janeiro como data para a apresentação do resultado do julgamento dos recursos impetrados pela defesa de Lula contra a sua condenação no caso do tríplex do Guarujá. Lula foi condenado, kafkianamente, por ter supostamente “recebido” R$ 3,7 milhões na forma de um apartamento que nunca foi dele – a propriedade está em nome de um fundo gerido pela Caixa Econômica Federal – e de obras nesse apartamento. Segundo seus acusadores, seriam “recursos oriundos” de propinas da Petrobras, quando todo mundo sabe, incluídos os funcionários da empresa, que ele nunca se envolveu diretamente com a gestão da companhia.

Em qualquer lugar do planeta, ninguém poderia ser condenado por ter recebido algo que nunca foi seu.

No país arbitrário, hipócrita e surreal em que estamos vivendo, com o descarado uso político da “justiça” por grupelhos partidários de juízes de primeira instância e procuradores do Ministério Público, isso não é apenas possível, como a parte mais poderosa da mídia endossa e aplaude tal absurdo como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Apenas para efeito de comparação, a mesma “justiça” que se adianta para condenar Lula em segunda instância, no tempo recorde de seis meses, com objetivo de impedir que ele concorra à presidência da República, em uma eleição em que é franco favorito, levou 12 anos para julgar um ex-governador tucano – Eduardo Azeredo, também ex-presidente do PSDB – em primeira instância e mais dois para julgá-lo na segunda, sem confirmar sua prisão e reduzindo, no final, a sua pena.

Mas para uma imprensa que se diz isenta e afirma defender o direito e a liberdade, isso também não vem ao caso e é a coisa mais comum do mundo.

Tivessem um mínimo de pudor, aqueles que querem condenar Lula esperariam outro, entre os muitos processos que estão sendo movidos contra ele, que tivesse um mínimo de provas ou verossimilhança.

Mas isso exigiria, diante de seu constante crescimento nas pesquisas, um precioso tempo.

A mesma justiça que quer homologar a condenação de Lula em tempo recorde, nega à sua defesa o acesso a supostas provas contra ele.

Mas para certa imprensa que se diz isenta e afirma defender o direito e a liberdade, isso também não vem ao caso e é merecedor, apenas, de se fazer cara de paisagem e também a coisa mais banal do mundo.

O povo brasileiro tem o direito de escolher, sem interferência de quem quer que seja, o candidato – qualquer que seja ele – que mais lhe aprouver nas próximas eleições. E de ver subir a rampa do Palácio do Planalto aquele que tiver mais votos.

Há dois golpes em andamento para 2018.

O primeiro, já anunciado, será dado, diante do mundo inteiro, no dia 24 de janeiro: impedir – com uma condenação furada, feita com base em delação premiada e em uma armação jurídica – que o principal candidato concorra às eleições. Isso equivale a um golpe de Estado aqui como em qualquer lugar do globo. É interferir descarada e diretamente na história de um país que conta com a quinta população e o quinto maior território do planeta, como se isso aqui fosse uma República de Banana. (Ou melhor dizendo, alô, alô, sociedade civil organizada; alô, alô, defensores do Estado de Direito e da Democracia: de “bananas”.)

Uma coisa leva à outra.

O segundo golpe – depois não adianta dizer que a cigana não avisou – também já está sobejamente anunciado.

Ele também é filho torto da “justiça” e tão hediondo e temerário quanto o primeiro. E equivalerá a promover, historicamente, a deliberada, assumida e desavergonhada entrega do país ao fascismo, pela “justiça” brasileira – tente-se ou não tapar o sol com a peneira, caso se confirme a decisão já claramente sinalizada por juízes, desembargadores, e até mesmo ministros da Suprema Corte. E não me venham disfarçar ou mascarar isso com especulações fantasiosas ou a edificação de improváveis e imponderáveis, oníricas, quimeras eleitorais – no dia 30 de outubro de 2018. ( Por Mauro Santayana, na RBA).

Versão em quadrinho de "O Processo". Personagem de Franz Kafla enfrenta justiça do aburdo.
Farsa se repete como história. (Foto: Amazon.com.br/Reprodução).



Superior Tribunal de Justiça já discute a condenação de Lula



O Superior Tribunal de Justiça (STJ) já discute a possibilidade de condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no próximo dia 24, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). De acordo com a colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, nos bastidores, ministros do STJ acreditam que um veredicto negativo por 3 a 0 “será fatal para o petista”, e dificultaria a possibilidade de concessão de liminar pelo STJ, permitindo que Lula leve adiante uma candidatura presidencial. “Neste caso, de unanimidade, prevaleceria a discussão sobre a possibilidade de prisão de Lula, e não sobre a sua candidatura”, diz Bergamo.

Na hipótese de haver um voto divergente da condenação, Lula ganharia fôlego e poderia apresentar mais de um recurso para tentar reverter a condenação em segunda instância. Segundo a colunista, o palpite, entre magistrados, é o de que o próprio TRF-4 evitaria acelerar o processo, evitando atropelar a candidatura do ex-presidente.

O PT tem afirmado que a candidatura de Lula será registrada independentemente da decisão do TRF-4 e que há vários mecanismos jurídicos que permitem ao ex-presidente fazer campanha até próximo das eleições. (Com informações da Revista Fórum/ Folha de São Paulo).

(Foto: Ricardo Stuckert/ Fotos Públicas).